segunda-feira, 19 de setembro de 2011

CineMaterna leva cultura e informação para mães com seus bebês

O trio Tais, Irene (abaixo) e Alexandra. Foto: Cacau Querino
Três histórias de vida, três histórias de maternidade, uma história de sucesso de empreendedorismo materno. 


O CineMaterna é um dos programas favoritos de dez entre dez novas mães. A ideia é levar cultura para mães recentes com seus bebês, fora de casa e coletivamente. 


Juntar o acesso à cultura com troca de informações e a formação de uma rede de mulheres que dialogam e se apoiam mutuamente é a receita desta iniciativa, que alegra e muda a vida de muitas mães.

As amigas e sócias Alexandra, Irene e Tais nos contam sobre a experiência de empreender juntas e em um ramo totalmente inovador. Elas falam das coisas boas, como estar mais tempo ao lado de seus filhos, e também alertam para o lado difícil de empreender sendo mães.

Para Alexandra, empreender é algo super positivo, pois a “nova mulher precisa achar seu caminho “do meio”, e precisa mostrar isso para o mundo”. Tais afirma que o nascimento de uma criança “reconfigura” uma mulher: “Uma nova visão de mundo, um desejo de uma nova forma de trabalhar e/ou de mudar a sociedade e uma coragem que nem sempre existia antes fazem com que muitas mulheres (e homens também, por que não?) sejam “picadas pelo bichinho do empreendedorismo”. Irene chama atenção para os cuidados necessários ao empreender: “A verdade é que a equação não é muito fácil e nem sempre se é bem sucedida. Seja porque o rendimento não é suficiente, seja porque o trabalho aumenta ao invés de diminuir”.

Dicas elas tem várias: é preciso muita dedicação, realismo e, especialmente, preparação: procure ajuda, pesquise e busque parcerias.

Confira abaixo a entrevista deste trio tão especial.

Blog EM: Conte um pouco sobre a iniciativa: como surgiu, por que, com qual motivação, a partir de que... 
Alexandra, Tais e Irene: O CineMaterna surgiu da necessidade pessoal de algumas mães retomarem a rotina cultural depois do nascimento do primeiro filho. Participávamos de um grupo virtual e, quando uma mãe comemorou a ida ao cinema, nos motivamos a irmos juntas, só que com os bebês. Frequentamos sessões normais semanalmente por seis meses, e foi muito bom para o nosso grupo.  Além da atualização cultural, tinha a troca riquíssima entre as mães no café após a sessão. Com o aumento de mães e com os nossos bebês crescendo, percebemos que chegamos a um limite. Nesse ponto, decidimos oficializar o projeto criando a ONG que trabalha o retorno da mãe à vida cultural em agosto de 2008.

Como era seu trabalho antes e como é agora? Você realizou o que queria quando resolveu empreender?
Ale - Eu sou jornalista, trabalhava com assessoria de imprensa e continuo fazendo isso no CineMaterna. Quando fiquei grávida, comecei a mudar minha rotina, entrei na yoga para gestantes sabendo que precisaria deixar para traz um estilo de vida e me transformar. E isso foi acontecendo aos poucos, e quando o bebê nasceu eu sabia que não retornaria à empresa para qual trabalhava. Sei lá... estava tão sensível, que não conseguia me imaginar em um ambiente no qual a maternidade era um problema. Mas sabia também que não ficaria parada e segui trabalhando como freelancer. Lembro que na minha agenda de trabalho mantive as terças-feiras livres, que era o dia de ir ao cinema. E o nosso grupo foi crescendo, as idéias de projetos em comum com aquelas mães amigas eram muitas. Fazíamos listas de atividades às quais poderíamos nos dedicar e o CineMaterna estava logo ali, embaixo do nosso nariz. No CineMaterna, a realização não é só profissional, porque o formatamos como empresa social, somos mães e cuidamos de mães, e acredito que fizemos algo que será lembrado como referência do que é  um programa cultural amigável e como isso fará diferença nas futuras gerações.
Irene - Comecei minha carreira trabalhando como executiva em multinacionais, na área de marketing. A vida corporativa tem um ritmo acelerado, com pouco espaço para a vida pessoal. Quando saí de empresas, fui ser consultora autônoma em treinamento. Passei a ter um pouco mais de tempo para mim, voltei a estudar, o que me dá muito prazer. Os rendimentos caíram vertiginosamente, mas tinha horários flexíveis e era mais feliz com o que fazia. Quando veio o CineMaterna, além do prazer do negócio, tinha a questão da maternidade. Confesso que não foi nada planejado, apenas fomos atrás de uma oportunidade que passava à nossa frente. E sim, sou bastante feliz de tocar (com outras pessoas) um negócio que faz diferença na vida das famílias. Trabalho muito mais do que antes, quando era autônoma, devido à complexidade e o tamanho do negócio, isso é verdade. A mente fica conectada o tempo inteiro com o trabalho, mas não tenho do que reclamar. 
Tais - Eu já tinha minha própria empresa de consultoria havia muitos anos, então ser empreendedora não era novidade para mim. O que mudou radicalmente com a fundação da CineMaterna foi o escopo do meu trabalho, além da forma de trabalhar, para comportar a existência da minha filha.

Quais as facilidades e dificuldades de empreender sendo mãe?
Irene - Por trabalhar em esquema de "home office", tenho dificuldade de "desligar a empresa" quando termina o turno de trabalho. A vantagem é poder estar perto dos filhos, mesmo não estando com eles o tempo todo (ou eu não trabalho, rs). E numa cidade como São Paulo, não pegar trânsito é de enorme valia!
Tais - Sinceramente, não acho que seja mais fácil empreender sendo mãe, pelo contrário, acho mais difícil tentar empreender e dar conta de um bebê ou uma criança pequena. Por outro lado, o nascimento de uma criança “reconfigura” uma mulher. As mudanças pelas quais passamos são tão amplas e profundas que não raro emerge dessa experiência uma nova pessoa. Uma nova visão de mundo, um desejo de uma nova forma de trabalhar e/ou de mudar a sociedade e uma coragem que nem sempre existia antes fazem com que muitas mulheres (e homens também, por que não?) sejam “picadas pelo bichinho do empreendedorismo”.

Qual o lado bom e o lado ruim?
Irene - O bom é que realmente dá chance de estar mais presente na rotina dos filhos e ser valorizada por isso. Lado ruim é você não achar o negócio certo para você, porque não dá para desligar do trabalho.
Tais -  Felizmente a minha experiência tem mais lados bons que ruins. Entre as coisas boas estão o fato de fazer algo em que eu acredito, da forma que eu acredito, permitindo que eu esteja sempre ao alcance da minha filha. Criamos uma organização de mulheres onde a maternidade é celebrada todos os dias e onde a notícia de uma nova gravidez é sempre motivo de alegria ao invés de gerar medo de demissão. Há várias coisas ruins em empreender, por isso acho que essa solução não serve para qualquer pessoa. A flexibilidade de horário geralmente vem atrelada com uma carga de trabalho muito maior – quando seu trabalho é o seu sonho, não existe final de semana, nem feriado. Não há estabilidade nos primeiros anos. O risco é grande e com frequência negócios recentes não dão certo.

O que é empreendedorismo materno para você?
Ale - É uma mulher poder assumir o lado mãe no mundo coorporativo.
Irene - Para mim, empreendedorismo materno é o início de um negócio próprio após a chegada dos filhos, repensando valores pessoais e profissionais. Pode ser imediato ao nascimento ou pode levar um tempo. 
Tais - Acho que é outra forma de maternidade. Gestar, parir e fazer crescer uma empresa dá um trabalho do cão, mas a satisfação de ver seu sonho virando realidade um pouquinho a cada dia compensa tudo isso.

Na sua opinião, por que as mães optam por este formato de trabalho?
Ale - Elas querem um caminho para continuar produtivas e estar perto dos filhos.
Irene - Eu acho que algumas mães optam ter um negócio próprio em busca de proximidade com os filhos, poder de alguma forma, acompanhar seu crescimento. 
Tais -  Num primeiro momento, parece a “solução para todos os problemas” das mães recentes, permitindo ter algum trabalho estando perto dos filhos.

Você acha este fenômeno algo positivo ou negativo para a vida das mulheres?
Ale - Super positivo! A nova mulher precisa achar seu caminho “do meio”, e precisa mostrar isso para o mundo. Não só no empreendedorismo independente, mas também no mundo coorporativo.
Irene - Qualquer forma de repensar a vida acho que é positiva. 
Tais - Acho, na realidade, que sempre existiu, mas sem um nome pomposo e sem tantas opções quanto há hoje.  Por muitos milênios a vida foi essencialmente rural e imagino que as mulheres não paravam de trabalhar porque nasceu um filho – esse privilégio era para poucas. Essa história de mulher que fica em casa enquanto o marido vai pro trabalho é coisa do último século, de uma sociedade que virou urbana, mas esse modelo não atingiu todas as camadas da população. Acho que as mulheres sempre “se viraram”. No passado recente não havia muitas opções além de costurar ou cozinhar “pra fora”, como diziam. Hoje há uma imensa gama de produtos e serviços que podem ser ofertados, graças a deus, porque eu não cozinho, nem costuro bem! [risos]

É um modo sustentável de conciliar carreira e maternidade?
Ale – essa opção tem de ser sustentável, economicamente ou socialmente; porque a mulher é uma força vital para a sociedade, o sentimento materno precisa ser compartilhado (em cuidados, carinhos e proteção) para que o mundo fique melhor.
Irene - Depende do formato a que se chegou. A verdade é que a equação não é muito fácil e nem sempre se é bem sucedida. Seja porque o rendimento não é suficiente, seja porque o trabalho aumenta ao invés de diminuir. 
Tais - Depende da pessoa. Foi a forma que eu encontrei de conciliar as duas coisas na minha vida e tem funcionado muito bem, mas não acho que funcione para qualquer pessoa.

Que dica daria a quem quer se tornar uma mãe empreendedora?
Ale – Dedicação. O negócio será seu filho e precisa de toda sua atenção, você deve amá-lo. Use seu instinto para escolher o caminho e estude muito qual é a “alma” do negócio. Ele deve ser útil e necessário para outras pessoas além de você e suas amigas.
Irene – Não ter a ilusão de que ter um negócio próprio é um sonho. É frequente exigir mais dedicação que um emprego em empresa, com rendimento menor. Não é todo mundo que tem perfil empreendedor e quem não tem, precisa fazer parceria com quem tenha. 
Tais - Prepare-se para trabalhar muito, provavelmente mais do que vc trabalhava antes. Prepare-se para não ganhar nada e ainda investir por dois ou três anos. Planeje e peça ajuda antes de sair fazendo qualquer coisa. Buscar instituições como o Sebrae é sempre uma boa.
Não espere que você saiba e goste de fazer tudo. Se possível, procure sócias com perfil diferente do seu, que gostem de fazer o que você não gosta e entendam de coisas que você não entende. Mas não chame mais do que uma ou duas sócias porque se não vira “reunião de condomínio” e qualquer decisão demora uma eternidade pra ser tomada. Além disso, quanto mais gente envolvida, maior o porte que a empresa precisa ter para gerar uma renda aceitável para todas. 
Se não é o seu sonho, não faça. Empreender dá muito muito muito muito muito trabalho.
Nem todo mundo vai achar seu produto ou serviço tão genial ou útil quanto você. Ouça seus clientes e potenciais clientes. E não se ofenda com as respostas. Lembre-se que sua empresa não é você.
Boas ideias sempre serão copiadas, é uma questão de tempo. Por isso é bom investir para registrar marca, produto e empresa antes dela “pegar”.
Por fim, saiba que 24% das novas empresas fecham no primeiro ano, segundo últimos dados do IBGE (ver http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2010/10/27/24-da-empresa-brasileiras-fecham-no-primeiro-ano-de-vida-diz-ibge.jhtm ) e são poucas as que chegam aos cinco anos. Dar errado é parte da vida. Mas você nunca vai saber se não tentar.

Gostou do Cinematerna?
Entre em contato com Ale, Irene e Tais.
http://www.cinematerna.org.br/

Consulte nosso banco de dados de mães empreendedoras e apóie a campanha “Contrate uma mãe empreendedora”

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