segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pílulas de Gutman


Um registro informal do encontro com Laura Gutman em São Paulo. Por Michelle Prazeres.

Estou ciente de que resumir toda riqueza da fala de La Gutman é um equívoco, mas diante do pedido de tanta gente para socializar minhas anotações do seminário de ontem, dia 2, em São Paulo, fiz este post. As anotações completas renderam 18 páginas, então, pensei em jogar aqui alguns pensamentos-chave.

A discussão tem tudo a ver com as reflexões que nós mães empreendedoras, vivemos cotidianamente. Afinal, o debate que gira em torno do empreendedorismo materno tem relação íntima com as alternativas que nós, mães, encontramos para estarmos mais presentes nas vidas de nossos filhos e nos reencontrarmos profissionalmente (Laura falou muito da maternidade como crise vital e do autoconhecimento como possibilidade de emancipação e encontro com o ser essencial que temos dentro de nós).

Mais do que de nossos filhos, Laura falou das nossas infâncias e nos fez buscar memórias muito pessoais. A provocação da autora é: conhecendo a nossa biografia, podemos nos entender, entender como nos relacionamos com os outros e o que tendemos a projetar em momento de crise, como a maternidade.

Laura fala desde o lugar da civilização patriarcal, e nos provoca a ver que todos estamos imersos em valores desta civilização. Ela explica que uma civilização precisa de guerreiros para se perpetuar. E conta como somos, desde bebês, violentados, para seguir reproduzindo os valores desta civilização. Nesse sentido, ela afirma que “todos nascemos com uma infinita capacidade de amar”, mas que esta capacidade e a sensibilidade vão nos sendo mutiladas ao longo da vida e desde os primeiros momentos dela, já no parto.

Seguem as pílulas.
Quem quiser o registro completo (sem edições, pode ficar com alguns trechos incompreensíveis para quem não esteve presente...) pode escrever para empreendedorismomaterno@gmail.com

Sobre patriarcado e parto
“Uma mulher reprimida, separada de suas próprias sensações, vai permitir que seu parto seja massificado, anestesiado, medicado, porque seu corpo não é seu”.

“Se parimos em cativeiro, o que queremos é escapar. Porque a cria que ali está é que nos causou tanto dano”.

“O parto conectado é o contrário do controle”.

Sobre o poder do discurso materno
“A consciência se organiza a partir das palavras que nos nomeiam”.

“Fica incorporado o personagem que me é nomeado. E vai ficar na sombra tudo que acontece dentro de mim, o que sou, minhas virtudes e capacidades, que ninguém viu, porque desde que nasci, o que eu pedia era interpretado desde a lente da minha mãe”.  

“A distância, o abismo entre o ser essencial e o personagem que jogamos na vida vai ser cada vez maior”.

“O personagem é a maneira que encontramos que sobreviver ao desamparo, de sermos vistos pela nossa mãe”.

Maternidade, crise vital
“Qualquer mudança que quisermos fazer na vida, temos que sair das nossas interpretações e entrar em contato com a dimensão do nosso desamparo, medo, métodos de sobrevivência. Tudo isso são personagens que usamos para sobreviver e nos mantém em uma mentira geral”.

“A maternidade e a paternidade são crises vitais, em que os personagens se desmantelam”.

“Pedimos ajuda quando nosso personagem não está em condições de sustentar a nossa vida. Por isso a maternidade é crise”.

Mudança interior e sociedade
“Estamos numa sociedade patriarcal. Mas as mudanças reais são íntimas, emocionais, cotidianas, dentro de casa”.

“Estamos tão fora das nossos pulsos vitais, que podemos seguir qualquer caminho”.

“O mínimo é reconhecer como é difícil estar disponíveis para os outros. Temos um corpo e pessoas grandes, mas somos crianças pedindo atenção”.

4 comentários:

  1. Mi, muito obrigada pela sua generosidade! A Laura Gutman é genial! Cada palavra dela faz sentido.
    Abraços!

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  2. Menina-flor Michelle, muito obrigada pelas pílulas. Estou aqui engolindo todas. Algumas descem a seco, já outras... haja água. Sábia Gutman! Bjos. Liliam Ferrarezi.

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  3. Oi Michele,


    Adorei o seminário e obrigada por compartilhar suas anotações.
    bj e sucesso!

    Gi do Prado

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  4. Obrigada, Michelle! Muito ricas as frases! Bjos

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