Um registro informal do encontro com Laura Gutman em São Paulo. Por
Michelle Prazeres.
Estou ciente de que resumir toda riqueza da fala de La Gutman é um equívoco,
mas diante do pedido de tanta gente para socializar minhas anotações do
seminário de ontem, dia 2, em São Paulo, fiz este post. As anotações completas
renderam 18 páginas, então, pensei em jogar aqui alguns pensamentos-chave.
A discussão tem tudo a ver com as reflexões que nós mães empreendedoras, vivemos cotidianamente. Afinal, o debate que gira em torno do empreendedorismo materno
tem relação íntima com as alternativas que nós, mães, encontramos para estarmos
mais presentes nas vidas de nossos filhos e nos reencontrarmos
profissionalmente (Laura falou muito da maternidade como crise vital e do
autoconhecimento como possibilidade de emancipação e encontro com o ser
essencial que temos dentro de nós).
Mais do que de nossos filhos, Laura falou das nossas infâncias e nos
fez buscar memórias muito pessoais. A provocação da autora é: conhecendo a
nossa biografia, podemos nos entender, entender como nos relacionamos com os
outros e o que tendemos a projetar em momento de crise, como a maternidade.
Laura fala desde o lugar da civilização patriarcal, e nos provoca a ver
que todos estamos imersos em valores desta civilização. Ela explica que uma
civilização precisa de guerreiros para se perpetuar. E conta como somos, desde
bebês, violentados, para seguir reproduzindo os valores desta civilização. Nesse sentido, ela
afirma que “todos nascemos com uma infinita capacidade de amar”, mas que esta
capacidade e a sensibilidade vão nos sendo mutiladas ao longo da vida e desde
os primeiros momentos dela, já no parto.
Seguem as pílulas.
Quem quiser o registro completo (sem edições, pode ficar com alguns
trechos incompreensíveis para quem não esteve presente...) pode escrever para empreendedorismomaterno@gmail.com
Sobre patriarcado e parto
“Uma mulher reprimida, separada de suas próprias sensações, vai
permitir que seu parto seja massificado, anestesiado, medicado, porque seu
corpo não é seu”.
“Se parimos em cativeiro, o que queremos é escapar. Porque a cria que
ali está é que nos causou tanto dano”.
“O parto conectado é o contrário do controle”.
Sobre o poder do discurso
materno
“A consciência se organiza a partir das palavras que nos nomeiam”.
“Fica incorporado o personagem que me é nomeado. E vai ficar na sombra
tudo que acontece dentro de mim, o que sou, minhas virtudes e capacidades, que
ninguém viu, porque desde que nasci, o que eu pedia era interpretado desde a
lente da minha mãe”.
“A distância, o abismo entre o ser essencial e o personagem que jogamos
na vida vai ser cada vez maior”.
“O personagem é a maneira que encontramos que sobreviver ao desamparo,
de sermos vistos pela nossa mãe”.
Maternidade, crise vital
“Qualquer mudança que quisermos fazer na vida, temos que sair das
nossas interpretações e entrar em contato com a dimensão do nosso desamparo,
medo, métodos de sobrevivência. Tudo isso são personagens que usamos para
sobreviver e nos mantém em uma mentira geral”.
“A maternidade e a paternidade são crises vitais, em que os personagens
se desmantelam”.
“Pedimos ajuda quando nosso personagem não está em condições de
sustentar a nossa vida. Por isso a maternidade é crise”.
Mudança interior e sociedade
“Estamos numa sociedade patriarcal. Mas as mudanças reais são íntimas,
emocionais, cotidianas, dentro de casa”.
“Estamos tão fora das nossos pulsos vitais, que podemos seguir qualquer
caminho”.
“O mínimo é reconhecer como é difícil estar disponíveis para os outros.
Temos um corpo e pessoas grandes, mas somos crianças pedindo atenção”.
Mi, muito obrigada pela sua generosidade! A Laura Gutman é genial! Cada palavra dela faz sentido.
ResponderExcluirAbraços!
Menina-flor Michelle, muito obrigada pelas pílulas. Estou aqui engolindo todas. Algumas descem a seco, já outras... haja água. Sábia Gutman! Bjos. Liliam Ferrarezi.
ResponderExcluirOi Michele,
ResponderExcluirAdorei o seminário e obrigada por compartilhar suas anotações.
bj e sucesso!
Gi do Prado
Obrigada, Michelle! Muito ricas as frases! Bjos
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