Fabiolla Duarte - mãe de Hari (1 ano e 10 meses) – concede um depoimento pra lá de especial ao nosso blog.
Emocionantes, comoventes e envolventes, as palavras de Fabiolla são palavras de mãe: ecoam, ficam no corpo, na alma, na pele e aguçam os sentidos.
Emocionantes, comoventes e envolventes, as palavras de Fabiolla são palavras de mãe: ecoam, ficam no corpo, na alma, na pele e aguçam os sentidos.
Em seu texto, ela compartilha pensamentos preciosos sobre o parto, a maternidade e a forma como se vivencia tudo isso no mundo de hoje. E, claro, fala sobre o empreendendorismo materno. “Quando uma mulher se torna mãe, geralmente com a sensação de vulnerabilidade vem também muita força e é essa força que tem transformando muitas mães em mães empreendedoras. Isso é um lindo movimento de valorização da maternagem”, diz.
Fabiolla é doula, terapeuta corporal e consultora de alimentação natural. Edita vários blogs sobre estes assuntos e um blog pessoal. Sua formação é de artista visual e educadora, e a transformação pela que passou foi tão profunda, que ela seguiu a trilha que a levou ao que faz hoje.
Leia abaixo, na íntegra, esta história tão especial!
Fabiolla e Hari |
Tornei-me militante do parto humanizado depois do parto de meu segundo filho. Um parto domiciliar que curou algumas das grandes feridas de meu primeiro parto, sete anos antes, na Inglaterra. Foi o parto de minha filha, um parto normal hospitalar, com óbito e muita tristeza.
Comecei escrevendo em um blog, o diário de minha segunda gestação. Muita coisa intensa dentro de mim e muita necessidade de organizar minha visão, minha experiência e meu medo.
Sempre escrevi. Aliais escrevo antes mesmo de saber escrever. Cresci escrevendo diários mentais onde eu narrava meu difícil cotidiano familiar, sempre dando versões mais positivas. Nessas versões, ao invés de filha, eu era a mãe, a mãe de muitos filhos.
Cresci esperando o dia de ser mãe.
Durante um pós-parto cheio de desafios e um tanto prolongado, foram os relatos de parto que, apesar de quase sempre me deixarem aos prantos por emoção ou pesar, me impulsionaram aos poucos para meu novo tema de estudo: o parto e a doulagem. Entendia a cada dia que passava que, em mim, o parto de meus filhos ainda continuava, de alguma forma invisível, sem aquela dor física, sem o corpo se abrindo, mas com o coração lacerando, desafiando meu perfeccionismo, minha inflexibilidade, minha relação com o tempo e minha ansiedade, a questão da eficiência e a visão do cotidiano poeticamente desestruturado.
O parto enquanto importante rito de passagem da mulher na sociedade, e um dos últimos, foi ficando, em minha opinião, cada vez óbvio. Meu pensamento foi se aprofundando e minha observação mais aguda e minha intuição mais acordada. Para mim o parto é porta de transformação e a dor do parto é coisa linda. É transe da abertura, da passagem, da ponte daquela mulher que de menina vai virar mãe. Fiquei apaixonada, quis ser doula de todo mundo.
Junto com meu estudo para tornar-me doula, fui buscando ferramentas para me auxiliar nessa caminhada. A massagem Garbhini Abhyanga (uma técnica indiana desenvolvida principalmente para gestantes), junto com o uso de Rebozo (técnica mexicana que utiliza um xale para auxiliar dores físicas nas gestantes e auxiliar o parto) e a presença de espírito e inspiração, foram me dando repertório para tocar no corpo da mulher, gestante ou não, que quer repousar, que quer fluir e que quer acordar para si mesma.
Meu filho foi crescendo e de um bebê que mamava o dia inteiro exclusivamente, passou a comer pratos inteiros cheios de comida. Foi essa comida que me fez voltar a ler meus antigos livros de alimentação natural, que me fez mais uma vez entender a importância de ser flexível e de relativizar quando pensamos em comida, em saúde, em indivíduo e em contexto social. Nasceu o Comidinhas naturebas e junto com uma parceira de trabalho, o workshop sobre a introdução alimentos sólido para bebês, o Do Peito à Panela.
Minha formação anterior é de artista visual e educadora. Passei alguns anos estudando em uma faculdade antroposófica na Inglaterra e sai de lá educadora Waldorf. Desenho, arte e educação, tudo agora em mim se mistura de novas formas e se transforma em mãe, em doula e em pensadora.
Ser autônoma não é fácil. É ser equilibrista e ser mãe com ideais de unschooling ou desescolarização, ou melhor, ainda dizendo, educação ativa, é menos fácil ainda.
Significa ter um filho em casa, em casa, sem pressa alguma de colocá-lo em uma escola (ou quem sabe nunca fazê-lo) e ter o dia, apenas o dia, para trabalhar, para cuidar da casa e para estar com meu filho (ou pelo menos permitir que ele esteja com ele mesmo, se conhecendo e conhecendo o mundo).
O projeto é que a noite eu durma. Não é fácil. Coisa rara nos últimos quase dois anos, mas com uma boa dose de bom humor e muita organização, tenho conseguido inverter a ordem dos fatores e de noturna estou passando à diurna. Durmo bem mais cedo e acordo mais cedo para minhas tarefas. Eu mais descansada e meu filho com noites menos agitadas.
O lado bom disso tudo é que vejo meu filho crescer. E isso não tem preço.
Há dois dias, ele disse EU. EU, já? Ele diz muitas coisas ultimamente que me deixam boquiaberta. Muito interesse pela vida, muito interesse pelas pessoas e muita rapidez de aprendizagem. Tem coisas que não têm preço. O esforço familiar aqui em casa é grande. Para nos manter e para manter nosso olhar de criança sempre aceso. A idéia aqui é que nós, enquanto pais nos comuniquemos com nosso filho. Qual é a língua que ele entende? Estamos aprendendo. A língua que ele fala eu tenho entendido e é muita linda mesmo. Ser autônoma para mim é poder assistir a vida se manifestando todo dia e trabalhar em todas as brechas possíveis. Tem valido a pena.
Quando uma mulher se torna mãe, geralmente com a sensação de vulnerabilidade vem também muita força e é essa força que tem transformando muitas mães em mães empreendedoras. Isso é um lindo movimento de valorização da maternagem.
Assunto fundamental para a grande revolução que se faz urgente no mundo e que aos poucos já acontece, mães que cuidam de seus filhos, mães presentes, mães que optam por partos respeitosos, mães que não tem pressa, mães, mães, mães; é a mãe que vem salvar o mundo da crise planetária de desamor. É o que eu acredito.
A cada nova mãe, um novo filho. Um novo tempo, pensamento e coração novos também.
Viva a mãe que vive em todos nós e viva a mãe que nos tornamos a cada dia.
Gostou do trabalho da Fabiolla?
Entre em contato com ela!
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