quinta-feira, 9 de maio de 2013

Trabalhar e maternar é possível?! - Por Ligia de Sica, da Bebechila

Texto reproduzido do Blog da Bebechila.
Original aqui.

Trabalhar e estar com os filhos sempre por perto é uma realidade que precisa ser ajustada todos os dias. Os filhos vão crescendo e os interesses pelo mundo vão se ampliando. E a necessidade de horas de trabalho pressionam o cotidiano das mães empreendedoras.

E a tv ali ao lado se mostra tentadora para unir esses dois desejos, do filho e da mãe.
Aperte alguns botões e hop, a mágica se opera.
Será que é assim tão fácil, indolor e sem consequências?
Trabalhando à frente da Bebêchila e sendo mãe de duas meninas de 3 e 5 anos, esse questionamento percorreu alguns caminhos até chegarmos aos combinados atuais, que, claro, poderão ser reajustados em breve.
Aqui, já deixamos correr solto o pedido para ligar a tv, já restringimos o tempo ("só 20 minutos, tá bom?"), tiramos a tv da sala e colocamos em um cômodo, passamos depois a restringir a tv para apenas filmes em dvd, ouvindo depois continuamente ("outra vez, mamãe!"), e mudar de novo o combinado para "um só filme por dia".

E, para minha surpresa, depois desse último combinado, elas quaaase não tem pedido para ligar a tv! Não imaginei que isso aconteceria...
Claro, no paralelo, muito trabalho foi feito: organizações constantes dos brinquedos no quarto e sala, rodízio de brinquedos que são guardados no maleiro e trocados a cada 2 ou 3 meses, incentivo a brincadeira entre elas, incentivo a resolver os conflitos sem precisar da minha intervenção, propor atividades de tinta, argila, terra.
E para o meu trabalho isso significou, 1 hora de trabalho e 15 minutos de arrumação.
E antes era 1 hora de trabalho e 2 horas de crianças cansadas, nervosas e brigando entre si.

Outro dia, elas foram dormir na casa da avó e eu disse "filha, leve seus filmes, não fique assistindo lá o discovery". E emendei: "filha, você sabe porque eu não quero que você assista tv?". E ela: "puquê tem muita pupaganda." E eu: "e porque você acha que eu não quero que você assista às propagandas?". E ela "puquê é do mal". (risos internos) "Não filha, não é porque é do mal, é porque propagando é para adulto, não para criança." Saiu assim, sem planejar.
Claro que dentro de mim fiquei citando a minha lista pessoal das reclamações que tenho dos canais infantis (qualidade dos desenhos, valores questionáveis, respostas prontas, padrões de menininhas-dóceis e meninos-valentões, e mais uma série um pouco longa), mas eu não ia encher a cabeça dela.

No meio do caminho dessas fases de combinados, fomos viajar em alguns feriados e a regra lá era: descanso da tv. Não ligávamos a tv nenhuma vez, e pude perceber que elas escutavam os sons da mata, se deliciavam com o vôo das borboletas, com o musgo das pedras, com os cheiros diferentes de cada flor, com a horta, com os animais e, o mais legal, elas descobriram o prazer de brincar juntas.
Surgiu a brincadeira do cavalo e da moça do cavalo. A da gata filhote e gata mãe. Da moça da loja e da cliente ("quienti"). A do leão ferido e do veterinário. A do tigre que caça a zebra. A da mãe e da filha.
E hoje, sento para trabalhar de manhã e ouço do quarto: "mãaae!" e a outra responde: "oi filha!".
E claro, nem todo dia é assim.

Um comentário:

  1. não deve ser fácil, mas nada como a dinâmica dos combinados e da rotina... claro que alguns dias serão mais difíceis que outros, porém, quem ganha é a criança. muito legal sua experiência.

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